Empresas brasileiras têm investido cada vez mais em iniciativas voltadas ao bem-estar dos colaboradores. No entanto, um levantamento da Diversitera – especializada em pesquisas para gestão, com ênfase em Diversidade e Inclusão – revela um desalinhamento preocupante entre o discurso institucional e a estrutura de poder nas organizações.
Realizada entre junho de 2022 e março de 2025, o estudo analisou mais de 70 empresas de 17 segmentos . O recorte mostra que a alta liderança no mercado formal de trabalho segue homogênea e ainda distante da pluralidade brasileira, muitas vezes divergindo da proporcionalidade esperada quanto à demografia do país, como demonstram os dados abaixo:
- Apenas 1,5% dos cargos de diretoria e gerência executiva são ocupados por pessoas com deficiência (IBGE: 8,9% de PcD no Brasil) ;
- Mulheres ocupam 35% desses cargos (IBGE: 51,5% de mulheres no Brasil);
- Pessoas negras representam 9,7% das lideranças de topo (IBGE: 55,5% de negros no Brasil).
Segundo especialistas, esses dados não são apenas um alerta sobre representação e representatividade, mas também um indício de risco estrutural que pode comprometer a própria capacidade das empresas de escutar, inovar e reter talentos.
“Não há experiência do colaborador sem representatividade real na tomada de decisão”, afirma Jaime Almeida, diretor de DEI da ABRH-SP. “Lideranças homogêneas podem não compreender a dimensão das dores e desafios enfrentados por grupos minorizados. Isso afeta diretamente o clima organizacional, os índices de saúde mental e, por consequência, a performance do negócio”.
Saúde mental preocupa
A constatação vem num momento em que o esgotamento emocional e o burnout se tornaram fenômenos comuns no ambiente corporativo, especialmente entre profissionais sub-representados. Outros estudos apontam que a exclusão estrutural está diretamente relacionada à perda de engajamento, rotatividade elevada e à dificuldade em desenvolver ambientes psicologicamente seguros.
Apesar do aumento dos investimentos em programas de saúde mental, os especialistas reforçam que não há bem-estar sustentável sem uma transformação profunda nas estruturas de liderança.
“A Employee Experience precisa ser redesenhada com lentes de diversidade, equidade e inclusão. Do contrário, ela continuará sendo um privilégio de poucos”, complementa Jaime Almeida. “Se as pessoas que estão na liderança não desenvolvem repertório através da escuta, não representam e não reconhecem diferentes trajetórias, dificilmente conseguirão construir uma cultura de pertencimento real”.
Para a Diversitera, Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) não podem ser iniciativas periféricas e cosméticas à estratégia de negócio, quando na realidade são valores que contaminam ferramentas de gestão aplicadas no dia a dia. Em um mercado cada vez mais exigente – com consumidores, investidores, fornecedores e talentos cobrando coerência e compromisso – empresas que não repensarem suas lideranças correm o risco de se tornarem irrelevantes.