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Líderes brasileiros priorizam tradição e regras, aponta pesquisa

Ao contrário do estereótipo global que associa os brasileiros à informalidade e à descontração, líderes no país aparecem como mais tradicionais, disciplinados e orientados a regras. É o que revela um levantamento da Hogan Assessments, em parceria com a Ateliê RH, baseado em dados de mais de 2.800 executivos comparados a benchmarks globais.

De maneira geral, os resultados do estudo pintam um retrato dos executivos brasileiros como líderes íntegros, motivados e socialmente sintonizados. Seu perfil motivacional reflete uma forte preferência por estrutura, tradição e profissionalismo, com ênfase em fazer as coisas da maneira “certa” e manter altos padrões de conduta. Do ponto de vista comportamental diário, eles se mostram ambiciosos e disciplinados — definindo metas ousadas, mas mantendo o foco no processo, na organização e na execução.  

Já sob pressão, os líderes brasileiros demonstram uma tendência a se tornarem excessivamente confiantes e resistentes a feedback, ao mesmo tempo, os dados sugerem que eles permanecem acessíveis, empáticos e atenciosos com os outros. No geral, esse perfil sugere um estilo de liderança focado em objetivos e orientado por valores, equilibrado por inteligência emocional e um profundo respeito pela estrutura e tradição.

Metodologia de estudo

Uma das maiores editoras de testes de personalidade do mundo, a Hogan Assessments, em quase quatro décadas, se especializou na criação de testes que mensuram especificamente o comportamento do indivíduo no trabalho. A empresa desenvolveu três inventários de personalidade que são base para diferentes relatórios: o HPI (Inventário Hogan de Personalidade) mede os traços de personalidade que o indivíduo apresenta no dia a dia que influencia sua reputação; o HDS (Inventário Hogan de Desafios), que mapeia como o profissional age em momentos de estresse e pressão; e o MVPI (Inventário de Motivos, Valores e Preferências), que identifica os motivadores e valores de um indivíduo. Os três inventários foram usados para realizar a comparação entre líderes brasileiros e globais.

Com base nas escalas dos três inventários, pesquisadores da Hogan fizeram o recorte de uma amostragem de 2.800 testes respondidos por executivos brasileiros, de diferentes áreas e setores, ao longo do ano de 2023. Esses resultados foram comparados com as médias de resultados globais.  

Um dos pontos que mais se destaca na avaliação da personalidade dos líderes brasileiros é a valorização da Tradição – uma das escalas presentes no MVPI. A diferença em relação aos líderes globais é de 13 pontos percentuais. “Líderes com alta pontuação em Tradição valorizam a história e as convenções, e esses indivíduos provavelmente possuem um alto padrão de conduta e princípios bem estabelecidos que orientam sua tomada de decisões e comportamento. Além disso, são percebidos como maduros e de bom senso, e se preocupam em manter a tradição, os costumes e os comportamentos socialmente aceitáveis. Normalmente acreditam que existe uma maneira certa e uma maneira errada de fazer as coisas e incentivam abordagens estruturadas para a conclusão de projetos e tarefas”, explica Roberto Santos, sócio-diretor da Ateliê RH, que introduziu e distribui os instrumentos Hogan no Brasil há 22 anos.

Em compensação, o motivador com menor pontuação dos líderes brasileiros é o Hedonismo, com oito pontos abaixo do benchmark global de executivos. Líderes com baixa pontuação em Hedonismo tendem a preferir ambientes de trabalho profissionais e formais. “Eles podem preferir levar o trabalho mais a sério e encontrar prazer apenas nos momentos de folga”, complementa Santos.  

Em conjunto, esses dois traços refletem um estilo de liderança baseado em princípios, disciplina e respeito à hierarquia, com menor ênfase na diversão ou espontaneidade no local de trabalho. Esses líderes provavelmente prosperam em ambientes onde as expectativas são claras, os comportamentos são guiados por padrões compartilhados e o trabalho é abordado com um senso de dever em vez de recreação.

“Esse perfil contraria o estereótipo global de brasileiros como amantes despreocupados de futebol, praia e carnaval, com pouca consideração por estrutura ou valores conservadores. Na prática, a perspectiva baseada na ciência é confirmada por novas empresas interessadas em investir no Brasil: espera-se que os líderes brasileiros sigam regras, mantenham padrões e se concentrem diretamente no negócio” diz Santos.

O “jeito” brasileiro

A partir das escalas do Inventário Hogan de Personalidade (HPI), que mede como  as pessoas se relacionam, trabalham, lideram e alcançam sucesso no dia a dia, o estudo revelou que os executivos brasileiros são ligeiramente mais ambiciosos que a média global, com a diferença de um ponto percentual. A escala em que eles têm maior pontuação é a Ambição, demonstrando autoconfiança, motivação e espírito de liderança. Líderes com alta pontuação em Ambição tendem a definir e alcançar metas audaciosas e, frequentemente, são altamente seguros de si e orientados para a realização. No entanto, podem parecer excessivamente competitivos e intimidadores para os outros.

A segunda escala de maior pontuação dos líderes brasileiros é a Prudência – com 12 pontos acima do benchmark global. Líderes com alta pontuação em Prudência tendem a ser orientados por regras, confiáveis, organizados e orientados por processos. Esses líderes provavelmente são bastante focados em implementação e conformidade; no entanto, podem parecer rígidos, inflexíveis e resistentes a mudanças.  

A combinação entre esses dois perfis dá origem a um estilo de liderança orientado a objetivos e altamente disciplinado. Esses líderes provavelmente serão vistos como confiantes, motivados e capazes de definir e alcançar objetivos desafiadores, ao mesmo tempo em que valorizam estrutura, confiabilidade e cumprimento de regras. Comparados aos seus pares executivos globais, eles se destacam por seu forte foco tanto em desempenho quanto em processos. Embora essa união possa apoiar a execução eficaz e a presença da liderança, também pode apresentar riscos de serem percebidos como excessivamente controladores, rígidos ou excessivamente competitivos em ambientes de alto risco.

“A liderança brasileira frequentemente reflete uma cultura de “Alta Tradição” — valorizando a hierarquia, a adesão a regras e a tomada de decisões centralizada e de cima para baixo. Muitas vezes, é uma mistura de autoritarismo e aversão ao risco, temperada pela flexibilidade e resiliência para navegar por fortes restrições regulatórias — personificando o jeitinho brasileiro, ou o jeito brasileiro de prosperar na complexidade”, avalia Santos.

Ainda segundo o especialista, essa tríade de Alta Tradição, Ambição e Prudência é comum entre os líderes de empresas do Brasil. “No entanto, as multinacionais tendem a favorecer uma combinação diferente, com menor Tradição e Segurança, demonstrando maior tolerância a riscos e níveis mais moderados de orientação por processos e regras,” completa.

Excesso de autoconfiança e informalidade podem ser um problema

Com doze pontos percentuais acima do benchmark global de executivos, o fator que mais atrapalha os líderes brasileiros é a Arrogância. Curiosamente, esta é a única escala do Inventário Hogan de Desafios em que os líderes brasileiros pontuam acima do benchmark global; todas as outras escalas variam de um a 12 pontos abaixo do benchmark de executivos. Aqueles com pontuação alta em Arrogante tendem a passar de confiantes e assertivos a arrogantes e presunçosos sob pressão e estresse. “Esses líderes podem até superestimar suas próprias habilidades, tornando-se excessivamente confiantes e deixando de receber feedback de seus chefes, colegas e subordinados. Pior ainda, sob estresse e pressão, essa arrogância pode se manifestar como abuso de poder e confiança”, pontua Santos.

Em contrapartida, a escala de menor pontuação no HDS é o traço Reservado, com 12 pontos percentuais abaixo do benchmark global de executivos. “Esses líderes tendem a ser percebidos como educados, gentis e atenciosos. Eles conseguem ler as pessoas rapidamente e tentam entender as perspectivas dos outros. Quando questionados, conseguem lidar e apoiar as tempestades emocionais dos outros”, avalia.  

“Considerando os outros traços de personalidade, a liderança brasileira pode ser paternalista e autoritária, resumida na citação: “faça o que eu digo e eu te trato bem”. Dito isso, essa liderança é temperada pelo calor, hospitalidade e informalidade, especialmente ao receber pessoas de fora. “Isso torna os líderes carismáticos e habilidosos na construção de consensos, mas pelo seu estilo informal e comunicativo, podem ser vistos como evasivos, pouco diretos ou até mesmo ‘sem filtro’, dependendo do público, complementa Santos.

Para o especialista, os resultados da pesquisa também trazem reflexões práticas para as organizações. “Embora o estilo ‘comando e controle’ predomine na maior parte das organizações, os líderes devem considerar o efeito que esse estilo tem no engajamento dos funcionários e no planejamento da sucessão. Muitas vezes, podem bloquear inadvertidamente o sucesso daqueles sob sua liderança que são mais questionadores. É fundamental entender que receber feedback e contribuições não significa perda de autoridade; pelo contrário, a inclusão pode ampliar o poder e a influência de quem lidera”, finaliza.

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