Aplicativos como DuoLingo, Strava e Fitbit consolidaram um modelo que vai além do entretenimento. A gamificação, uso de elementos típicos de jogos em contextos não lúdicos ,tornou-se uma estratégia relevante de experiência do usuário (UX), com impacto direto na redução da taxa de abandono, que pode chegar a 90% nos 30 dias seguintes ao download, segundo levantamento da Quettra.
Para enfrentar esse desafio, empresas brasileiras têm investido em dinâmicas como recompensas, rankings, missões e sistemas de progressão, com o objetivo de estimular o uso contínuo das plataformas. “Por meio de desafios e conquistas, conseguimos transformar ações rotineiras em experiências envolventes. Isso gera engajamento real e amplia o tempo de permanência no app”, afirma Rafael Franco, CEO da Alphacode, empresa especializada no desenvolvimento de soluções digitais para grandes marcas.
Segundo Franco, o modelo já está consolidado em super apps chineses como o Temu, plataforma de e-commerce que adota mecanismos de gamificação para incentivar interações e estimular recompensas. “É muito comum o uso de moedas virtuais, brindes acumulativos e missões diárias. Esse padrão deve ganhar força também no Brasil, à medida que as marcas locais percebam o potencial dessas ferramentas para aumentar o tempo de tela e a recompra”, explica o empresário.
A estratégia é adotada especialmente por aplicativos voltados à educação, atividade física, produtividade e bem-estar. Estudo da Health Enhancement Research Organization mostra que usuários que participam de desafios em grupo têm 50% mais chances de manter uma rotina de exercícios, fator que impacta diretamente os índices de lealdade. “A gamificação cria um ciclo de motivação contínua. Quando o usuário percebe progresso, sente-se estimulado a continuar”, complementa o executivo.
Além de ampliar o engajamento, os recursos também atuam na retenção de usuários. “O maior desafio hoje não é atrair downloads, mas manter o aplicativo instalado. É uma disputa por espaço na tela e na memória do celular”, avalia Franco. De acordo com ele, funcionalidades como programas de fidelidade criam barreiras eficazes à exclusão do app. “Quando há acúmulo de pontos ou cupons, deletar o aplicativo passa a representar perda. É uma barreira de saída eficiente.”
Casos de sucesso têm incentivado startups e grandes empresas a replicar a lógica em setores como alimentação, mobilidade e saúde. “O Strava, por exemplo, usa rankings e metas semanais para gerar senso de comunidade. Já o DuoLingo adota feedbacks imediatos e trilhas de conhecimento para incentivar o aprendizado contínuo”, detalha o CEO da Alphacode.
Para ele, a combinação entre gamificação e inteligência artificial tende a potencializar ainda mais os resultados. “Com IA, é possível adaptar os desafios ao perfil de cada usuário, oferecendo uma experiência mais fluida e personalizada.” Segundo Franco, a análise de comportamento integrada ao design e à automação torna os apps mais responsivos às necessidades do público.
A Alphacode é responsável pelo desenvolvimento de aplicativos de marcas como Madero, China In Box e Domino’s, com mais de 20 milhões de usuários mensais nas áreas de delivery, saúde e fintechs. Entre os projetos recentes, estão plataformas que integram gamificação a sistemas de recomendação baseados em dados. “Não basta ter um app funcional. Ele precisa ser interessante e relevante no cotidiano do usuário. A gamificação é uma das formas mais eficientes de garantir isso”, conclui Rafael Franco.