A experiência de compra no Brasil já não cabe mais apenas em uma loja física. Se antes o consumidor buscava peças no shopping, hoje ele transita entre a vitrine digital e o provador presencial, combinando canais e exigindo agilidade, conveniência e identidade. Esse comportamento reflete um movimento global, mas com particularidades no mercado nacional: enquanto um relatório da Opinion Box revelou que 88% dos brasileiros fazem compras digitais pelo menos uma vez por mês, uma pesquisa da fintech Koin trouxe que 57,6% dos consumidores nacionais preferem comprar roupas pela internet em vez de ir a lojas físicas.
No segmento masculino, a transformação é ainda mais perceptível. O aumento do interesse dos homens por moda, autocuidado e estilo elevou o patamar desse mercado. A moda masculina no Brasil vem avançando cerca de 30% ao ano, de acordo com o Sebrae, o que coloca o país entre os oito maiores mercados do mundo nesse segmento. Dentro desse contexto, a holding paranaense AKR Brands, que reúne as marcas King&Joe, King&Joe Play e King&Joe Black, aparece como exemplo de como a digitalização pode ser estruturada não apenas para vender diretamente ao consumidor, mas também para fortalecer a rede de lojistas.
“Hoje o consumidor não diferencia o que é online e o que é presencial. Ele quer ter acesso às coleções no celular, mas também experimentar em loja, compartilhar em rede social e comprar no canal que for mais conveniente”, comenta o CEO, Allan Soares.
O destaque da atuação do grupo é a forma como o processo digital envolve diretamente os parceiros. Desde o final de 2024, a companhia intensificou o fornecimento de materiais digitais como imagens em alta resolução, vídeos, reels e conteúdos prontos para redes sociais destinados aos lojistas. A iniciativa tem como objetivo facilitar a comunicação e revendedores, permitindo que cada ponto de venda fortaleça sua presença digital sem precisar estruturar equipes próprias de marketing.
Segundo Soares, essa abordagem é um diferencial no setor. “Muitas marcas concentram esforços apenas no seu próprio e-commerce ou nos grandes marketplaces. Nós entendemos que o lojista precisa ser protagonista, porque é ele quem está na ponta da relação com o consumidor. Ao entregar ferramentas de comunicação, fortalecemos não só a marca, mas o sell-out do parceiro. Isso gera um efeito em cadeia: quanto mais relevante é o lojista na sua comunidade, mais força ganha todo o ecossistema. Por isso, trabalhamos para que nossas marcas sejam verdadeiras parceiras do varejo, oferecendo treinamentos, materiais digitais e suporte contínuo para potencializar resultados”, reforça.
Os números reforçam a estratégia. Atendendo mais de 3 mil clientes B2B em 2.500 cidades brasileiras, o grupo conta com uma fábrica de 8.500 m² em Londrina (PR) e prevê produzir 2 milhões de peças este ano. Em 2024, a holding alcançou R$ 100 milhões de faturamento consolidado e projeta encerrar 2025 com R$ 120 milhões, um crescimento de 20%. A meta de longo prazo é triplicar esse volume nos próximos cinco anos.
Além da digitalização, a AKR Brands investe na formação e no fortalecimento do varejo parceiro. Um dos exemplos é o AKR Acelera Lojista, programa com encontros mensais que oferece conteúdos sobre gestão de varejo, tendências do setor e transformação digital. Em setembro, a empresa também promove o Front Academy, um treinamento imersivo voltado aos representantes das três marcas da holding, com foco em capacitação, alinhamento estratégico e atualização sobre os portfólios.
Para o CEO, o futuro da moda masculina no Brasil passa por esse tipo de integração. “O mercado está em expansão, mas também em disputa. O consumidor é mais informado, mais conectado e exige autenticidade, e por isso, marcas e lojistas que não se adaptarem ao ritmo digital correm o risco de perder relevância. O desafio é grande, mas também é uma oportunidade de construir uma relação de longo prazo com esse público”, diz.
A trajetória da AKR Brands reflete um movimento mais amplo do varejo nacional: a transição de um modelo centrado no ponto de venda físico para uma rede integrada, em que presença digital, logística e relacionamento caminham juntos. Mais do que uma mudança tecnológica, trata-se de uma mudança cultural que redesenha as bases do consumo no Brasil.