O consumo entre jovens da Geração Z está passando por uma transformação marcada pela velocidade, pelo apelo emocional das redes sociais e pela oferta de crédito sem preparo. Nesse cenário, o endividamento cresce e se normaliza. De acordo com o Mapa da Inadimplência, o Brasil registrou 78,8 milhões de pessoas inadimplentes em agosto de 2025, sendo que 11,4% têm entre 18 e 25 anos. A combinação entre baixa educação financeira e exposição constante a estímulos de compra imediata tem colocado essa faixa etária entre as mais vulneráveis ao crédito rotativo.
“O primeiro contato com o cartão de crédito acontece, muitas vezes, antes de qualquer noção de planejamento. O cartão vira extensão de renda e não um instrumento financeiro. É aí que a armadilha se cria”, afirma Rodrigo Mandaliti, presidente do IGEOC e especialista em finanças. Ele destaca que o problema não é apenas individual. O consumo guiado por desejo instantâneo, reforçado por influenciadores, algoritmos e campanhas segmentadas, cria uma cultura de gasto contínuo, sem visão de consequência.
Uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que 49% dos consumidores já realizaram compras diretamente pelas redes sociais. Para os jovens, que passam grande parte do tempo conectados, o estímulo é ininterrupto. “As redes sociais atuam como vitrines permanentes. Quando se junta conveniência, parcelamento e aprovação imediata, a decisão de compra deixa de ser racional e passa a ser emocional”, completa Mandaliti.
Sem noções mínimas de planejamento, reserva financeira e impacto dos juros, os jovens entram em um ciclo que compromete renda futura e limita a autonomia financeira logo no início da vida produtiva. Para o especialista, a solução não é restringir consumo, mas ensinar estratégia. “Educação financeira não é sobre proibir, é sobre contexto. A pergunta não é: ‘eu quero?’, ‘isso cabe no meu mês, no meu plano e no meu futuro?’. Quando o jovem aprende a fazer essa pausa, o comportamento muda”.

