A Black Friday 2024 entrou para a história não pelo volume de vendas, mas principalmente pela engenhosidade dos criminosos digitais. Foram 17,8 mil tentativas de fraude registradas em poucas horas, somando R$ 27,6 milhões em golpes evitados. A sofisticação das quadrilhas ficou evidente: em vez de dispersar ataques de baixo valor, elas miraram mais alto. O ticket médio das fraudes saltou para R$ 1.576,75 (18% acima de 2023), o maior valor registrado desde 2020.
Em outras palavras, 2024 deixou claro que o jogo mudou: não se trata mais de pequenas perdas pulverizadas, mas de grandes investidas contra consumidores desatentos e sistemas vulneráveis.
Como os criminosos atuaram em 2024
Os alvos também mudaram. Instrumentos musicais (4,20%), games (4,02%) e informática (2,62%) estiveram no topo dos itens fraudados, substituindo os tradicionais celulares e eletrônicos. O movimento mostra que os golpistas estudam o mercado e buscam produtos de revenda rápida e de alto valor.
No mapa da fraude, Norte e Nordeste lideraram em proporção de tentativas (1,7% das compras), superando o Sudeste (1,4%). Isso indica uma possível combinação de menor fiscalização e menor acesso à informação de segurança digital nessas regiões.
Outro dado alarmante veio da Microsoft: em seu relatório global de 2024, 54% das campanhas de phishing miraram marcas de software e serviços, e 25% dos ataques envolveram QR Codes maliciosos, explorando o hábito mobile-first dos consumidores.
A era da fraude com inteligência artificial
Se em anos anteriores os ataques se resumiam a phishing ou roubo de cartões, em 2024 vimos a ascensão de golpes baseados em inteligência artificial. Deepfakes de voz e vídeo foram usados para enganar até executivos de grandes empresas. Um caso emblemático envolveu uma companhia britânica que perdeu US$ 25 milhões em uma videoconferência falsa com o “diretor financeiro”.
No Brasil, a polícia já desarticulou quadrilhas que passaram a burlar a biometria facial e roubaram R$ 50 milhões de contas bancárias. Esse cenário mostra que, em 2025, não basta desconfiar de links suspeitos: é preciso questionar até aquilo que parece real em chamadas de áudio e vídeo.
O consumidor como primeira linha de defesa
Para 2025, a expectativa é que o varejo online ultrapasse R$ 9,3 bilhões em vendas durante a Black Friday. Mas o crescimento das compras digitais vem acompanhado da responsabilidade compartilhada: empresas precisam investir em tecnologia antifraude, enquanto consumidores devem adotar hábitos defensivos.
Alguns cuidados essenciais:
- Desconfie de descontos irreais: se um iPhone de R$ 5.000 aparece por R$ 1.200, é golpe.
- Cheque sempre o endereço do site: erros de digitação, ausência de CNPJ e layouts amadores são sinais claros.
- Prefira cartões virtuais: eles se inutilizam após a compra e reduzem o risco de reutilização.
- Atenção aos QR Codes: criminosos colam códigos falsos sobre os originais. Sempre confirme antes de pagar.
- Confira destinatários em PIX e boletos: se o nome não corresponder à loja, não finalize a compra.
- Desconfie de urgência artificial: mensagens do tipo “só hoje” ou “últimas horas” são técnicas de pressão comuns em golpes.
O que esperar em 2025
Se 2024 foi um alerta vermelho, 2025 é a chance de virar o jogo. O uso crescente de biometria comportamental, análise em tempo real e inteligência artificial defensiva promete ampliar a capacidade de detectar fraudes antes que cheguem ao consumidor.
Ainda assim, a proteção depende de uma postura crítica. Descontos milagrosos, sites desconhecidos e pressa para fechar negócio continuam sendo os maiores aliados dos golpistas.
A lição que 2024 deixou é que quando a promessa é boa demais, a cautela precisa ser maior ainda. E, neste ano, transformar atenção em hábito pode ser a diferença entre aproveitar a Black Friday e cair em uma armadilha digital.

