O Brasil movimentou R$17 bilhões em cibersegurança em 2024, segundo levantamento da Peers Consulting + Technology, um reflexo direto da escalada dos crimes digitais no país. A projeção é de que, até 2029, esse mercado alcance quase US$4,5 bilhões, impulsionado pelo aumento da demanda por proteção em ambientes digitais cada vez mais complexos.
O mesmo estudo aponta que o país registra cerca de 140 mil ataques cibernéticos por ano, sendo o setor público o principal alvo, com quase 30% das ocorrências. Esse volume expressivo de investidas mantém o Brasil entre os principais focos de ataques cibernéticos da América Latina.
E esse cenário tende a se agravar. A preocupação se intensifica com a chegada do 6G, prevista para 2030, que promete conectar bilhões de dispositivos simultaneamente em aplicações críticas como veículos autônomos, cidades inteligentes e cirurgias remotas. Essa nova infraestrutura ampliará significativamente a superfície de ataque e exigirá avanços robustos em proteção digital para garantir a segurança de dados e operações em tempo real
“Com o 6G, a velocidade da informação se torna exponencial. E isso vale também para o cibercrime. A única forma de responder a essa nova realidade é com inteligência artificial operando em tempo real”, afirma Ana Cerqueira, CRO da empresa brasileira de cibersegurança ZenoX.
6G: velocidade, volume e uma nova fronteira de risco
A promessa do 6G é entregar conectividade ultrarrápida, latência quase zero e integração em larga escala de objetos inteligentes, do carro ao prontuário médico. Mas essa revolução tecnológica carrega consigo o desafio da expansão da superfície de ataque digital.
“Cada novo ponto de conexão é uma nova vulnerabilidade em potencial. A infraestrutura 6G amplia o perímetro de risco de forma sem precedentes”, diz Ana Cerqueira. Segundo a executiva, a resposta a esse cenário exige plataformas de threat intelligence capazes de monitorar continuamente comportamentos anômalos e identificar movimentações suspeitas ainda em estágio inicial.
Com múltiplos dispositivos conectados a todo momento, a proteção das identidades digitais se torna prioridade. O 6G trará contextos mais complexos de autenticação, exigindo monitoramento contínuo de credenciais, atividades suspeitas e possíveis vazamentos.“No mundo hiperconectado, proteger identidades é proteger o próprio sistema. Elas se tornam o novo ponto crítico da segurança digital”, pontua a executiva
IA encurta a janela entre ataque e resposta
Um dos maiores desafios na cibersegurança é o tempo de reação. Enquanto ataques são disparados em microssegundos, muitas vezes a resposta das equipes de segurança ocorre minutos, ou horas, depois.
“A inteligência artificial permite automatizar análises e decisões críticas. Com ela, conseguimos reduzir drasticamente a janela de exposição e agir quase no mesmo ritmo do ataque”, afirma Ana.
Hoje já há no mercado ferramentas baseadas em IA, que operam com algoritmos de risco que priorizam alertas com base em ameaças reais, evitando sobrecarga nas equipes e aumentando a precisão da resposta.
Cibersegurança ganha status de investimento estratégico
A consolidação da segurança digital como prioridade orçamentária é evidência de uma mudança de mentalidade no setor corporativo. De acordo com o mesmo levantamento, os investimentos em cibersegurança devem crescer 9% no Brasil em 2025, e muitas empresas planejam destinar entre 4% e 7% dos seus orçamentos de Tecnologia da Informação (TI) para a área de cibersegurança. Esse movimento posiciona o setor como motor de estabilidade e continuidade de negócios em um ambiente cada vez mais regulado e exigente quanto à proteção de dados.