Os Correios enfrentam uma das maiores crises financeiras de sua história, marcada por queda de receitas, aumento de custos e perda de participação no mercado de encomendas, cuja fatia recuou de 51% para 25% nos últimos anos, resultando em um rombo estimado de R$ 10 bilhões em 2025. A estatal pode comprometer o orçamento federal em 2026, com prejuízo projetado de até R$ 23 bilhões caso seu plano de reestruturação não avance conforme esperado. A necessidade de fechar as contas já havia levado a empresa a buscar empréstimos em bancos públicos e privados ainda neste ano.
Recentemente, a instituição suspendeu a contratação de um empréstimo de R$ 20 bilhões junto a cinco empresas financeiras devido ao custo elevado da operação. O Tesouro Nacional informou que não concederia garantia soberana para uma linha de crédito cujo juro superasse o teto definido pelo órgão. A proposta, aprovada pelo conselho de administração da empresa em 29 de novembro, seria contratada com um sindicato formado por Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra.
Para Paulo Bittencourt, estrategista-chefe da MZM Wealth, consultoria financeira especializada em planejamento financeiro e investimentos, a situação dos Correios reflete desafios estruturais recorrentes em estatais brasileiras. “A empresa vem acumulando déficits há anos, e a necessidade de empréstimos já indica que o desequilíbrio financeiro é profundo. O rombo afeta diretamente o orçamento federal, gerando contingenciamentos e pressionando outras áreas prioritárias do governo”, afirma.
De acordo com o plano de recuperação dos Correios, a reestruturação poderia reduzir o déficit já em 2026 e permitir um retorno à lucratividade em 2027. A empresa estima que serão necessários cerca de R$ 20 bilhões para sustentar medidas estratégicas e recuperar o equilíbrio financeiro, incluindo ajustes operacionais, racionalização de gastos e revisão profunda de processos internos.
O impacto da situação não se restringe aos números da estatal. Segundo o especialista, déficits elevados em empresas públicas podem comprometer a execução de políticas públicas, aumentar o endividamento do governo e criar riscos para investidores e fornecedores que mantêm contratos com a estatal, a redução da participação de mercado e a necessidade de capital de giro adicional também evidenciam a urgência em revisar a gestão e os modelos de operação dos Correios.
Segundo Paulo Bittencourt, mesmo com a implementação completa do plano de reestruturação, a retomada da lucratividade depende de disciplina fiscal e acompanhamento contínuo das medidas adotadas. “A evolução das receitas, a eficiência operacional e a capacidade de reduzir custos serão fatores determinantes para evitar que o déficit continue pressionando o orçamento federal em 2026”, conclui.

