Com o avanço do nomadismo digital, os brasileiros vêm expandindo suas fronteiras para além dos destinos tradicionais do trabalho remoto, como Portugal e Estados Unidos. Segundo levantamento da TecnologíaFX, plataforma de câmbio especializada em profissionais brasileiros que recebem do exterior, os desenvolvedores brasileiros já atuam em diversos países do planeta, incluindo locais pouco associados ao setor tecnológico, como Chipre, Estônia, Lituânia, Hong Kong, Macedônia do Norte e Singapura.
A busca por novos mercados ocorre de forma paralela ao próprio crescimento do modelo remoto de trabalho. De acordo com um estudo publicado pela DemandSage, existem cerca de 40 milhões de nômades digitais em todo o mundo, um acréscimo de 147% em comparação a 2019. Mesmo que o Brasil represente uma parcela relativamente pequena desse grupo (apenas 2%), uma pesquisa da ADP Research Institute mostra que 35% dos profissionais nacionais estão dispostos a trabalhar à distância em qualquer lugar.
Para Eduardo Garay, CEO da TechFX, a escolha por países fora da bolha reflete uma nova mentalidade entre os profissionais. “Optar por destinos fora do circuito tradicional vai além da busca por qualidade de vida ou ganhos financeiros. É também sobre encontrar uma cultura de trabalho que valorize resultados e respeito ao indivíduo”, destaca.
Experiências pessoais
Lucas Müller hoje trabalha remotamente para uma empresa na Estônia. Ele descobriu a vaga pela newsletter do Trampar de Casa e, após uma primeira tentativa frustrada, conseguiu a posição em um processo seletivo desafiador.
“Antes mesmo da contratação, trabalhei uma semana com a equipe, o que me deu uma visão real do ambiente. Aqui, não existe microgerenciamento: confiança é o valor central. Cumpro minhas entregas e, depois disso, posso simplesmente aproveitar o dia”, relata.
Já Vitório Costa atua em uma consultoria na Macedônia do Norte, atendendo clientes em diversos países europeus, principalmente na Grécia. Ele conseguiu a vaga pelo LinkedIn e conta que a adaptação cultural foi a principal barreira.
“Eles são muito diretos: reuniões curtas, planejamento seguido à risca e quase nenhuma hora extra, o que aumenta a produtividade sem comprometer a vida pessoal. Os colegas são simpáticos e solícitos, mas não têm a mesma informalidade do brasileiro, ajudam quando necessário, mas sem muita abertura”, explica.
Mercados em expansão
Além do aspecto cultural, entender o contexto de cada país é essencial para escolher o destino mais alinhado aos objetivos profissionais. Para Garay, essa é uma das chaves do futuro do trabalho:
“O futuro não está apenas nos grandes polos, mas na capacidade de adaptação e crescimento em contextos inesperados”, afirma o CEO da TechFX.
Confira algumas condições particulares dos destinos destacados pelo estudo:
- Chipre: país membro da União Europeia, com regime tributário simplificado e ambiente regulatório favorável a empresas estrangeiras. Tornou-se centro de operações financeiras e serviços digitais, atraindo talentos remotos.
- Lituânia: a capital Vilnius se consolidou como polo de startups e inovação digital. O governo incentiva empresas de tecnologia e a comunidade local se destaca em áreas como fintech e cibersegurança.
- Hong Kong: centro financeiro global com forte infraestrutura de conectividade. A proximidade com a China continental e a tradição em serviços internacionais tornam a cidade estratégica para negócios digitais.
- Singapura: hub asiático de tecnologia e inovação, concentra operações de grandes empresas globais. O país investe em digitalização, segurança cibernética e inteligência artificial, abrindo espaço para especialistas estrangeiros.
Brasileiros estão mostrando que o trabalho remoto não tem fronteiras. Mais do que buscar qualidade de vida, eles estão encontrando novos mercados, culturas e formas de trabalhar e provando que o talento nacional pode florescer em qualquer lugar