Mais de 400 pessoas se reuniram em junho, em Brasília (DF), durante o Summit Aliança Empreendedora 20 Anos — um encontro dedicado à construção de políticas públicas, ao desenvolvimento sustentável e ao fortalecimento do ecossistema empreendedor no país. Microempreendedores, autoridades e representantes de organizações de todas as regiões do Brasil marcaram presença, com destaque para representantes do Norte e do Nordeste, que vêm se consolidando como pólos estratégicos do microempreendedorismo nacional, impulsionados pelo protagonismo feminino e por soluções adaptadas às realidades locais
Dentre eles, participantes do Projeto Negócio Raiz — uma iniciativa da Aliança Empreendedora, apoiada pela Youth Business International (YBI) e financiada pela Standard Chartered Foundation, por meio do programa Futuremakers. Voltado para fortalecer o ecossistema empreendedor da bioeconomia nas regiões Norte e Nordeste, o projeto já beneficiou mais de 800 microempreendedores somente em seu primeiro ciclo.
O encontro também reuniu autoridades do poder público, incluindo representantes dos estados do Pará e Maranhão, que participaram ativamente dos debates sobre políticas públicas para o fortalecimento do microempreendedorismo. A programação uniu dois eventos realizados anualmente pela Aliança Empreendedora: o Encontro Nacional de Microempreendedores e o Fórum Brasileiro de Microempreendedorismo, este realizado por meio do Programa Empreender 360.
Protagonismo feminino em evidência
Mais do que reunir experiências, o Summit evidenciou o protagonismo dessas duas regiões, não apenas pela presença expressiva de empreendedores, mas também pela atuação de gestores públicos e organizações locais comprometidas com o desenvolvimento regional. Um exemplo disso foi a participação da Secretaria de Estado das Mulheres do Pará (SEMU), representada por Clarice Laonel, Diretora de Articulação e Políticas para as Mulheres, que apresentou diversas iniciativas voltadas ao empreendedorismo feminino sustentável na região.
Dentre as muitas ações da SEMU, a Aliança Empreendedora é um parceiro para capacitação inclusiva, acesso a crédito e valorização da autoestima das empreendedoras, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade. “A Aliança Empreendedora merece todo nosso reconhecimento pela excelente forma didática em fazer uso dessa plataforma (Summit) para articulação coletiva entre governo, sociedade civil e setor privado, com foco em inspirar mais mulheres a transformar suas realidades”, afirmou Clarice. Ela destaca que o evento contribuiu para uma construção coletiva mais representativa, alinhada às realidades locais e segmentada por região, promovendo o compartilhamento de saberes e experiências com foco no desenvolvimento econômico.
Clarice também ressaltou o crescimento da participação feminina no empreendedorismo informal, mesmo diante dos desafios do cuidado familiar. Segundo ela, o material produzido durante o Fórum servirá como base para aprimorar políticas públicas, descentralizar ações e alinhar estratégias às realidades socioeconômicas dos municípios paraenses.
Após as trocas no Summit, a SEMU pretende implementar espaços de escuta ativa para mapear necessidades locais, capacitação e acesso a crédito, além de desenvolver trilhas formativas com certificação em gestão de negócios e marketing digital, entre outros, e está em conversa com a Aliança Empreendedora para o aprofundamento da parceria. Também está prevista a adoção de plataformas digitais para gestão e monitoramento das políticas públicas, ampliando a efetividade e a visibilidade das iniciativas voltadas ao empreendedorismo feminino no estado.
Microempreendedoras do Negócio Raiz também participaram
O projeto Negócio Raiz marcou presença no evento com oito empreendedores, dentre eles Aline Rodrigues da Silva Costa, Izabela Conceição Lopes e Jéssica Santos da Cruz Moraes, participantes do primeiro ciclo da iniciativa, que tem duração de três anos. A participação no evento foi para elas uma oportunidade de troca de experiências, fortalecimento de redes e estabelecimento de novas parcerias para o crescimento de seus negócios.
A psicóloga Aline Rodrigues destacou que o Summit proporcionou conexões significativas com outros empreendedores e representantes de instituições alinhadas à sua missão. Segundo ela, foram muitos os aprendizados em temas como gestão, impacto, redes e propósito. “As conexões feitas, com certeza, vão refletir diretamente no crescimento e na ampliação do impacto social do meu trabalho”, afirmou. Em um momento atual de expansão, Aline está levando seus projetos voltados à saúde mental da mulher para novos espaços, com mais clareza de propósito e visão de futuro.
“Ver como cada empreendedor, mesmo vindo de contextos diferentes, enfrenta desafios parecidos e busca soluções criativas e potentes é algo que fortalece muito nossa caminhada. O que mais me chamou atenção foi a força da coletividade, da colaboração e da capacidade que cada negócio tem de gerar impacto social no seu território, independentemente do tamanho ou do recurso disponível”, completou.
A diversidade de perfis e ramos de atuação entre os participantes também foi um ponto destacado por Isabele Conceição, da Iza’s Delícias Confeitaria. Para ela, o evento evidenciou a força do cooperativismo e das parcerias como motores para o crescimento de pequenos negócios. “O maior aprendizado foi perceber como cada negócio consegue crescer quando há apoio de outros parceiros. Isso me mostrou o quanto essas conexões são importantes para o desenvolvimento do nosso trabalho”, afirmou.
Na mesma linha, Jéssica Santos, da iniciativa Mulheres de Fibra, classificou sua experiência no Summit como uma verdadeira “virada de chave” para o seu negócio. Ela destacou a unidade entre os empreendedores, independentemente das diferenças regionais: “Foi maravilhoso! O que mais chamou a atenção foi a unidade. Mesmo sendo de lugares diferentes, estávamos ali em busca do mesmo propósito, em busca de experiências e conhecimento”. Para ela, o evento foi também um convite à superação e à busca pelos espaços certos para alcançar objetivos: “Superação e quebra de paradigmas, pois viver esse momento foi incrível”.
Parcerias estratégicas
A Credisol, organização de microcrédito, também teve participação ativa no evento, representada pelo coordenador de ESG Stefano Mattei. Para ele, o Summit aprofundou a compreensão sobre a diversidade de realidades enfrentadas pelos microempreendedores, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. A troca de experiências reforçou que as soluções mais eficazes são aquelas construídas a partir das características locais, evitando modelos centralizados que pouco dialogam com contextos marcados pela informalidade e pelos vínculos comunitários.
Ainda segundo Stefano, muitos empreendedores dessas regiões apresentaram iniciativas enraizadas em suas comunidades, com soluções adaptadas à realidade local — seja na linguagem, na forma de distribuir, nos canais de venda ou no uso dos recursos disponíveis. “Ao mesmo tempo, percebi que um ponto comum entre os parceiros da região é a necessidade de criar produtos e serviços — financeiros e não financeiros — que reconheçam essa diversidade desde o início. Modelos prontos, pensados de forma centralizada, tendem a falhar onde a informalidade e os vínculos comunitários são mais fortes do que as estruturas formais”, pontua.
A experiência no evento também evidenciou o papel estratégico da Credisol como articuladora regional dentro do ecossistema de impacto, especialmente ao fomentar parcerias com instituições de formação empreendedora, como a Aliança Empreendedora. Nesse sentido, a colaboração entre as duas organizações abre novas possibilidades para ampliar o acesso ao microcrédito e à capacitação, contribuindo para a inclusão produtiva com foco no impacto social.
Entre os principais aprendizados, Stefano destaca a importância de compreender com mais profundidade o perfil dos públicos atendidos, ajustando não apenas a oferta de crédito, mas também o apoio oferecido, de forma mais sensível e contextualizada. Além disso, aponta a necessidade de fortalecer a visibilidade institucional da organização, ocupando espaços de debate público e setorial, e enfatiza o valor da escuta ativa como ferramenta para a construção conjunta com os empreendedores, bem como a importância de mensurar e comunicar com clareza o impacto gerado.
Para Lina Useche, cofundadora e Head de Relações Institucionais da Aliança Empreendedora, é essa diversidade de vozes que tornam o Summit da Aliança Empreendedora, e o Fórum Brasileiro de Microempreendedorismo, eventos únicos no cenário nacional. “Os eventos são momentos muito estratégicos onde conseguimos reunir narrativas de todo o país, que estimulam a geração de renda e a inclusão produtiva de ponta a ponta quando falamos do empreendedorismo na base da pirâmide. Contar com convidados que representam essa potência do Norte e Nordeste contribuiu para uma agenda rica de debates, onde o que é singular e único de cada região influencia diretamente a construção de soluções efetivas para o microempreendedor”.