A chamada “Economia Prateada” deixou de ser tendência para se tornar realidade. Com uma população que envelhece rapidamente e mantém poder de consumo, o Brasil e o mundo veem surgir novas oportunidades e também grandes desafios.
No livro ‘Economia Prateada: o poder da longevidade no mundo dos negócios’, mostramos como a longevidade vem transformando mercados, carreiras e a previdência complementar. A Economia Prateada corresponde ao conjunto de atividades econômicas, sociais e culturais que giram em torno da população 50+. Ela não se limita apenas ao consumo, mas envolve um ecossistema que abrange saúde, educação, lazer, tecnologia, moradia, previdência e até a forma como as cidades se organizam.
Esse conceito nasceu do reconhecimento de que o envelhecimento populacional não é apenas um dado demográfico, mas um fenômeno econômico de grande escala. A cor “prata” faz referência tanto aos cabelos grisalhos quanto ao valor desse mercado, que já movimenta mais de US$ 15 trilhões anuais no mundo e pode ultrapassar US$ 27 trilhões até 2050.
No Brasil, onde a população idosa crescerá mais rápido do que a infantil já na próxima década, o público 50+ representa quase 20% da população e concentra 42% da renda nacional, segundo dados da FGV Social. Mais do que números, a Economia Prateada exige políticas públicas inovadoras, estratégias empresariais adaptadas e uma mudança cultural sobre o valor da experiência e da maturidade, influenciando padrões de consumo, trabalho e convivência social.
O consumo desse público já se destaca em setores estratégicos, como imóveis, turismo, saúde, cultura e educação contínua. Além de movimentar a economia diretamente, os 50+ mantêm alto poder de decisão dentro das famílias, influenciando também o consumo das gerações mais jovens. Essa transformação atinge também o mercado de trabalho: a aposentadoria deixou de ser sinônimo de fim da carreira. Hoje, pessoas com 60, 70 anos estão empreendendo, assumindo cargos de liderança ou mudando de profissão, o que exige políticas de gestão multigeracionais, programas de requalificação e combate ao etarismo.
No setor de previdência complementar, a mudança é profunda. A previdência passa a ser vista não apenas como poupança de longo prazo, mas como instrumento para garantir qualidade de vida durante a longevidade. Produtos que unam proteção, saúde, bem-estar e renda sustentável tendem a ganhar espaço. Para isso, é fundamental desconstruir mitos sobre o envelhecimento, como a ideia de que idosos são dependentes ou improdutivos. A ciência comprova que é possível viver mais e com autonomia, e os dados mostram que o público 60+ é justamente o que mais cresce na adoção de tecnologia, aplicativos e redes sociais.
Essa nova realidade também impulsiona a inovação. Startups de healthtech, fintech e edtech vêm criando soluções personalizadas para os 50+, desde aplicativos de saúde preventiva até plataformas de educação para reinvenção profissional. O envelhecimento populacional, longe de ser um peso, é um motor de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, políticas públicas precisam acompanhar essa evolução, investindo em urbanismo amigável, transporte acessível, programas de empregabilidade e incentivos fiscais para empresas que desenvolvam soluções voltadas à longevidade.
Outro aspecto essencial é a equidade de gênero. Como as mulheres vivem, em média, sete anos a mais do que os homens e têm carreiras mais fragmentadas, enfrentam desafios financeiros maiores, tornando a educação previdenciária feminina uma prioridade. Além disso, elas são maioria entre as cuidadoras familiares, o que reforça a necessidade de políticas específicas e de produtos previdenciários que considerem essas diferenças.
Diversos setores devem se beneficiar diretamente da Economia Prateada, incluindo saúde, turismo, previdência, habitação adaptada, mobilidade urbana, educação continuada e tecnologia assistiva. Novos modelos de negócio também surgem, como turismo regenerativo para o público 60+, condomínios multigeracionais e soluções de previdência voltadas ao cuidado. Para aproveitar essas oportunidades, líderes e instituições precisam deixar de enxergar a longevidade como custo e passar a vê-la como uma oportunidade estratégica. Incluir o público 50+ nas estratégias de inovação, produtos e comunicação é essencial, assim como promover educação financeira desde cedo para que as próximas gerações possam viver mais com autonomia e qualidade.
A Economia Prateada é mais do que um mercado: é um espelho que reflete como queremos viver e envelhecer. Para o sistema de previdência complementar, ela representa a chance de se posicionar como protagonista na construção de futuros mais longos, ativos e felizes.
por Denise Maidanchen, CEO da Quanta Previdência e autora do livro ‘Economia Prateada – O poder da longevidade no mundo dos negócios’