O Pix e o Open Finance levaram à rápida bancarização dos brasileiros e à diversificação do sistema financeiro, sendo um dos maiores casos de sucesso de pagamentos diretos do mundo. Este campo inovador que atraiu atores locais e estrangeiros deve chegar a um novo patamar de segurança e governança, para o qual os setores regulados são cruciais.
O sucesso do Pix é inegável: em junho foram R$ 2,87 trilhões movimentados em 6,9 bilhões de transações, mostra o Banco Central. Em 2024, foram 63,8 bilhões de operações, 13 bilhões a mais que as de cartões de crédito, débito e pré-pagos, transferências, boletos e cheques juntas, segundo a Febraban, margem que deve aumentar neste ano com ferramentas como o Pix automático e o Pix parcelado.
Este volume não seria possível sem novas instituições de pagamento, que absorveram um contingente sem espaço nos bancos tradicionais. Assim, diversas empresas inovaram com soluções que removiam barreiras para tanta gente e multiplicaram as suas operações, tornando o Brasil um mercado inescapável. Por outro lado, o sistema bancário teve brechas que permitiram crimes como estelionato, fraude, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
A ação do crime organizado, em especial do tráfico de drogas, é uma das preocupações que levaram o Basel Institute of Governance a colocar o Brasil na posição 75 de 164 do seu índice anti-lavagem de dinheiro em 2024. A descoberta recente de fintechs criadas para lavar dinheiro para o PCC (Primeiro Comando da Capital) é prova dessa permeabilidade.
A violação da segurança é outra porta aberta para o crime. O ataque que levou ao desvio de R$ 800 milhões do arranjo Pix e as circunstâncias em que ocorreu –por meio de um funcionário júnior, com acesso amplo– torna imperativo blindar ainda mais o Open Finance. Para isso, deveríamos dispor da experiência de empresas habituadas com esses desafios.
Assim como em outras áreas da TI, são nos setores regulados que nascem as soluções de segurança mais robustas do sistema financeiro. Um deles é o de apostas esportivas, sujeito a crimes como sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas e obrigações como a restrição para menores de 18 anos, dependência e atores não autorizados.
De cada 5 pessoas que fizeram apostas on-line no Brasil em 2024, 4 pagaram via Pix, mostra uma pesquisa do Ipespe para Febraban. Com essa ampla maioria dos pagamentos diretos em seu volume de transações e sendo obrigadas a incorporar impostos e restrições, é natural que as instituições de pagamento que atuam no setor estejam na vanguarda da segurança.
Muitas delas também criam soluções avançadas de governança e compliance conforme normativas mais estritas, como a Lei de Resiliência Operacional Digital da União Europeia (DORA). Trata-se de uma forma mais de dar ao Pix e ao Open Finance novos mecanismos para evitar crimes, antecipando-se e oferecendo opções para aperfeiçoamentos no Brasil.
O Pix é o maior caso de sucesso na promessa de remover barreiras à inclusão financeira e trazer isonomia para pagamentos em todo o mundo. A aliança do Banco Central com as instituições locais e estrangeiras criará um ambiente forte, eficiente e blindado contra o uso indevido. Ter todas as ferramentas disponíveis só nos ajudará a alcançar este objetivo.
por Johan Strand, CEO da Zimpler