Com a chegada da Black Friday, o aumento expressivo nas vendas online e no volume de entregas exige atenção redobrada à segurança das operações logísticas. Entre novembro e dezembro, o número de entregas pode crescer até 30%, segundo a plataforma Eu Entrego. Esse crescimento acentuado pressiona centros de distribuição, transportadoras e marketplaces por agilidade e produtividade, muitas vezes em detrimento da segurança, resultando em um ambiente mais vulnerável a roubos e fraudes internas, cenário que exige planejamento redobrado.
Além da tecnologia embarcada, o fator humano é determinante para a segurança logística. Processos estruturados de recrutamento, treinamento contínuo, verificação de antecedentes (background check) e engajamento dos motoristas e equipes de suporte são tão importantes quanto os sistemas de rastreamento e monitoramento. A atuação integrada entre pessoas e tecnologia é o que garante respostas mais ágeis e assertivas em situações críticas.
O alerta se reforça diante dos números do Estudo de Roubo de Cargas, da ICTS Security, empresa especializada em consultoria e gestão de segurança, que revela um cenário paradoxal. Embora o número de ocorrências tenha caído 11% em relação a 2023, os prejuízos financeiros dispararam 21%, alcançando R$ 1,217 bilhão. O levantamento aponta que as quadrilhas têm priorizado cargas de maior valor agregado e fácil revenda, como alimentos, cigarros, eletroeletrônicos, medicamentos e cosméticos.
A ICTS Security reforça que a prevenção, além de passar pelo processo de monitoração, deve criar redundância operacional. Isso inclui medidas como duplo motorista em rotas sensíveis, alteração dinâmica de trajetos em tempo real, rastreamento com tecnologia anti-jamming e o uso combinado de protocolos físicos e digitais. Essas práticas reduzem significativamente o impacto das tentativas de interceptação e tornam a operação menos previsível para o crime organizado.
“As empresas precisam tratar a Black Friday como uma operação de risco ampliado. A indicação é antecipar o planejamento e integrar áreas de segurança, logística e tecnologia em um modelo de prevenção contínua”, alerta Anderson Hoelbriegel, diretor de Negócios da ICTS Security. Segundo o especialista, essa integração deve envolver também times de analytics e inteligência preditiva, equipes de resposta rápida e cooperação com autoridades locais, ampliando a capacidade de dissuasão e reação a incidentes.
O Sudeste segue liderando as perdas, com 83,6% dos prejuízos nacionais, sendo São Paulo responsável por quase metade (47,2%), seguido por Rio de Janeiro (18,7%) e Minas Gerais (14,2%). Mas o estudo mostra uma migração do crime para novas rotas: o Nordeste aumentou sua participação para 11,7%, com destaque para os corredores logísticos de Pernambuco, Maranhão e Bahia, enquanto o Norte passou de 0,1% para 0,9%, impulsionado por ocorrências no Pará e Amazonas.
O levantamento também mostra como as quadrilhas se adaptam às contramedidas regionais. Em estados onde há maior integração com forças de segurança e legislações mais rigorosas, como Paraná e Espírito Santo, as ocorrências recuaram. Já em regiões com fiscalização mais limitada, especialmente em rotas interestaduais e zonas portuárias, observa-se o deslocamento estratégico das ações criminosas.
“O avanço das quadrilhas para rotas menos protegidas mostra uma rápida adaptação do crime organizado às vulnerabilidades regionais. Isso exige das empresas uma revisão constante de seus planos de gerenciamento de risco”, afirma Hoelbriegel. “Vale o alerta para o risco crescente de fraudes na integração entre armazenagem temporária e distribuição final. O uso indevido de espaços logísticos intermediários para manipulação ou desvio de cargas reforça a necessidade de uma gestão sistêmica, física, lógica e legal, de toda a cadeia de suprimentos”.
Para reduzir riscos durante o pico de vendas, a ICTS Security recomenda antecipar o diagnóstico de riscos, mapear rotas e pontos vulneráveis, e reforçar o controle de acesso e monitoramento eletrônico. Um planejamento preventivo pode reduzir até 60% das ocorrências. Auditorias de parceiros logísticos, o uso de inteligência de dados e treinamento das equipes também são medidas fundamentais. A segurança logística deve ser encarada como um ciclo completo, prevenção, detecção, resposta e melhoria contínua, em que cada etapa é interligada e retroalimenta a outra. Esse modelo permite que as empresas se antecipem aos riscos e fortaleçam suas operações de forma sustentável.
A tecnologia também tem sido uma aliada estratégica na prevenção de roubos e na proteção das operações logísticas. Segundo Alvaro Loyola, country manager da Drivin Brasil, o uso de plataformas de gestão inteligente pode reduzir significativamente o tempo de resposta diante de incidentes. “Hoje, é possível identificar desvios de rota em tempo real e agir de forma imediata. Na Drivin, por exemplo, nossa solução emite alertas automáticos sempre que um veículo sai da rota planejada ou faz uma parada não programada, permitindo uma reação rápida e coordenada com a central de monitoramento. Esse tipo de tecnologia é fundamental para proteger motoristas, cargas e a reputação das empresas durante períodos críticos como a Black Friday”, destaca Loyola.
Na Olist, ecossistema de soluções voltado para pequenas e médias empresas, a solução logística Olist Envios conecta lojistas a uma rede com mais de dez transportadoras parceiras. Com o suporte de análise de dados e monitoramento em tempo real, a ferramenta permite identificar rapidamente qualquer anormalidade na entrega e acionar o último responsável pelo trajeto para garantir agilidade na resolução.
“Na Olist, redobramos os cuidados em períodos de grande movimento, como a Black Friday. Nesses momentos, cada detalhe da operação faz diferença, especialmente nas etapas em que o pacote muda de mãos. Um bom exemplo é o trajeto entre o centro de distribuição e a transportadora: se a movimentação fica parada por mais de um dia, um alerta é acionado imediatamente. Essa postura preventiva, aliando tecnologia e inteligência de dados, tem sido fundamental para reduzir perdas e roubos, além de reforçar a segurança e a confiança de toda a nossa rede, dos parceiros logísticos até o consumidor final”, afirma Glória Bolani Porteiro, head de Envios da Olist.
Segurança e eficiência no transporte de cargas
Enquanto as rodovias brasileiras sofrem cada vez mais com a sobrecarga e os riscos de circulação, a cabotagem desponta como uma alternativa altamente eficaz. Realizada pelo modal marítimo entre portos nacionais, a solução apresenta índices próximos de zero em ocorrências de roubo de carga, além de reduzir os riscos de avarias e o custo com seguros.
“Com a crescente demanda por eficiência e sustentabilidade no transporte de mercadorias, a navegação costeira tornou-se uma solução viável e estratégica, capaz de otimizar o fluxo de cargas. Ao aliviar gargalos como o desgaste acelerado das estradas, a alta incidência de acidentes e roubos, ela proporciona uma distribuição mais equilibrada da matriz logística, reduz os congestionamentos urbanos, melhora a fluidez do tráfego e diminui o tempo de transporte de mercadorias”, destaca Stephano Galvão, Diretor de Operações da Norcoast, empresa brasileira de navegação costeira.
Com mais de oito mil quilômetros de costa navegável, o Brasil está estrategicamente posicionado para ampliar o uso da cabotagem. “Esse modal promove inclusão territorial e reforça a governança logística no país, conectando regiões distantes com maior eficiência e estruturando uma cadeia de suprimentos mais integrada. Ao facilitar a distribuição de mercadorias e aumentar a competitividade das empresas, a navegação costeira também oferece mais segurança, já que a carga permanece por mais tempo em ambiente protegido, isto é, dentro do navio”, complementa Galvão.

