Na madrugada do dia 30 de junho, às 00h18, Rocelo Lopes, CEO da SmartPay e criador da carteira de autocustódia Truther, detectou movimentos atípicos nas plataformas da empresa e elevou imediatamente os filtros de validação nas compras de USDT e Bitcoin. A ação rápida permitiu reter grandes somas de dinheiro e iniciar de forma imediata a devolução dos valores às instituições envolvidas.
“Foram mais de 30 tentativas de transações, preferimos não divulgar os valores para preservar as empresas, mas nos colocamos totalmente à disposição das autoridades e instituições para apoiar operações envolvendo criptoativos. Nos últimos anos, adquirimos muita experiência em monitorar transações suspeitas com cripto, através de ferramentas e processos que criamos, alinhados ao conhecimento profundo do mercado e da tecnologia blockchain. Acredito que podemos ajudar muito nesse incidente”, afirma Rocelo Lopes.
Para o CEO da SmartPay, o incidente evidencia que o sistema financeiro precisa evoluir, saindo de uma estrutura centralizada vulnerável para mecanismos capazes de rastrear transações e travar valores suspeitos em tempo real. “Preocuparam-se em monitorar clientes e instituições, mas esqueceram do que acontece depois das instituições. A estrutura privada está ok, mas o que passa depois disso não está”, avalia.
Rocelo destaca que a blockchain poderia ter mitigado ou até evitado parte do prejuízo, permitindo rastrear transações desde a origem, usando “carimbos digitais” imutáveis que facilitariam o bloqueio imediato de valores suspeitos via smart contracts. “Se detecta uma fraude, o sistema trava a transação automaticamente e solicita esclarecimentos de quem recebeu. E podemos embutir na transação dados criptografados, como geolocalização, IP e identificação do usuário”, explica.
Além de rastreabilidade, a blockchain oferece privacidade e segurança ao usuário, transferindo a custódia das chaves de transação para o cliente e descentralizando riscos. “Quando centralizado, o ponto de ataque é mais fácil. Quando descentralizado, nem os saldos são visíveis para ataque. O usuário passa a ser responsável pela própria chave, como já fazemos na Truther”, pontua.
Para Rocelo, blockchains públicas, e não privadas, são o caminho real para modernizar o sistema financeiro, tirando das instituições o peso de custodiar os recursos de milhões de clientes, ao mesmo tempo em que oferecem transparência e segurança ao ecossistema.
A tokenização de ativos também é apontada como solução para isolar riscos e blindar operações contra fraudes, por meio de contratos inteligentes auditáveis e rastreáveis em tempo real, com possibilidade de recolher impostos automaticamente, reduzindo custos operacionais e burocracias.
Apesar dos desafios de escalabilidade, o mercado já testa soluções, como o uso de biometria para recuperação de chaves privadas e blockchains de segunda camada, como Liquid e Rails. “Estamos testando no Brasil a recuperação de chave via palma da mão, garantindo segurança mesmo em caso de perda de dispositivos”, revela Rocelo.
Para o CEO, blockchain não é apenas uma camada extra de segurança, mas um caminho real para modernizar o sistema financeiro nacional, melhorar rastreabilidade, reduzir fraudes e diminuir custos de compliance. “Blockchain é a forma mais rápida de rastrear e tirar o dinheiro de circulação em transações suspeitas, enquanto combate lavagem de dinheiro e evasão de divisas”, afirma.
Experiências internacionais reforçam essa visão, como o uso de stablecoins e blockchain em pagamentos na Suíça e na Argentina, onde brasileiros já podem pagar via PIX, convertido instantaneamente em USDT, com registros completos da transação.
Rocelo destaca que o Brasil poderia liderar essa transformação se o Banco Central e os reguladores apoiassem startups e empresas que desenvolvem essas soluções. “O hack bilionário é um alerta de que precisamos evoluir, e rápido. Blockchain, monitoramento inteligente e cooperação entre as partes são essenciais para blindar o sistema financeiro e evitar novos prejuízos em larga escala”, finaliza.