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Transformação digital sem impacto é só custo: por que tanta tecnologia ainda gera tão pouco resultado

A transformação digital se consolidou como uma prioridade estratégica nas grandes organizações. Não faltam investimentos, nem intenção. De acordo com a IDC, os investimentos globais em transformação digital devem ultrapassar US$ 3,4 trilhões até 2026. Mas há um paradoxo que ainda incomoda — e precisa ser enfrentado com mais honestidade: por que, mesmo com orçamentos robustos e estruturas dedicadas, tantos desses movimentos ainda geram pouco impacto real? Esse não é um problema de desconhecimento ou má vontade. Grandes empresas operam com legados profundos, cadeias de valor complexas, regulações rígidas e múltiplas camadas de decisão. Transformar nesse ambiente não é simples. Exige coragem, orquestração e paciência estratégica. O custo é alto, os riscos são reais e o impacto de qualquer mudança — positiva ou negativa — é gigantesco.

Dito isso, o desafio principal continua sendo o mesmo: a tecnologia, por si só, não transforma nada. O que transforma é a forma como ela é pensada, integrada e operacionalizada dentro do modelo de negócio. E é nesse ponto que muitos projetos ainda escorregam.Um estudo da BCG (Boston Consulting Group) aponta que apenas 30% das iniciativas de transformação digital atingem plenamente seus objetivos. Não é raro encontrar empresas com ferramentas modernas e times capacitados, mas que continuam presas a silos organizacionais, aprovações em cadeia e fluxos desconectados. Há squads “ágeis” que operam em ambientes onde decisões estratégicas ainda são tomadas por e-mail. Há dados, mas pouca capacidade de transformá-los em decisões acionáveis. Segundo levantamento da Forrester, entre 60% e 73% dos dados coletados pelas empresas nunca são usados em análises estratégicas. Há tecnologias avançadas, mas sem uma arquitetura que permita escalar com segurança e fluidez.

Transformar de verdade é mais do que digitalizar processos ou adotar novas plataformas. É repensar a operação com base em dados, redesenhar responsabilidades, reestruturar fluxos e, acima de tudo, alinhar tecnologia com objetivos estratégicos reais — não apenas com tendências. Sim, isso exige escolhas difíceis. Revisar contratos, descontinuar iniciativas, unificar estruturas que historicamente operam em paralelo. Muitas vezes, o que trava a transformação não é falta de tecnologia, mas excesso de heranças organizacionais não resolvidas. Mas o risco de não encarar esse processo com profundidade é alto — e silencioso. O custo da transformação mal orientada não aparece de imediato. Ele se dilui em ciclos longos de entrega, em soluções que não escalam, em dados que não se integram, e em oportunidades que não viram vantagem competitiva.

A boa notícia é que é possível fazer diferente. Empresas que tratam tecnologia como parte central da sua arquitetura estratégica, que constroem governança de produto, e que enfrentam com responsabilidade o desafio da mudança estão colhendo ganhos reais: mais eficiência, mais previsibilidade, mais aprendizado organizacional. A transformação digital não precisa ser caótica, nem disfarçada de inovação. Ela precisa ser coerente, conectada ao negócio, e capaz de sustentar resultados com consistência. Porque no fim das contas, o que define sucesso não é a adoção de tecnologia, mas a capacidade de gerar valor real com ela.

Rafael Spagnuolo
Rafael Spagnuolo
Rafael Spagnuolo é fundador da Ideen Tecnologia, consultoria estratégica especializada em ambientes regulados e de alta complexidade. Atua com desenvolvimento de produtos digitais, modernização de arquiteturas e governança de soluções tecnológicas com impacto mensurável. Também é fundador das empresas Sow, Elo e Revvo, com trajetória marcada pela construção de soluções que conectam tecnologia e negócio em contextos onde a margem de erro é zero.
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